A Culpa é da Ciência #011 - Ciência de volta, mexilhão demais, abelha de menos
2 anos depois (ufa!), produção científica BR volta a crescer. A Culpa é da Ciência é a newsletter mensal da Bori que reúne histórias, descobertas e debates relevantes pra você, que dá valor à ciência.
Depois de dois anos de queda, a produção científica brasileira voltou a crescer em 2024. O novo relatório Bori-Elsevier, publicado na última quinta (18), mostra que a quantidade de artigos científicos produzidos em instituições brasileiras cresceu 4,5% em relação a 2023, chegando a 73.220 documentos. Não é ainda o patamar de 2021, quando tivemos 82.440 artigos, mas é um alívio depois de amargar dois anos seguidos com reduções superiores a 7%. A retomada não é só brasileira: entre os 54 países analisados (aqueles com mais de 10 mil artigos em 2024), apenas Rússia e Ucrânia tiveram variação negativa — o mundo parece estar finalmente deixando para trás os efeitos mais pesados da pandemia sobre a rotina de pesquisa.
“Os cientistas relatam que houve um período de corte de recursos, de ataque às instituições e à figura dos cientistas, o que acabou afetando o trabalho deles”, disse ao jornal O Globo Sabine Righetti, estudiosa de política científica e cofundadora da Bori. “Nesse cenário, o pesquisador também demandava menos recurso para fazer pesquisa, fazia menos pesquisa, e vinha esse efeito cascata. A queda ocorreu em mais da metade dos países que nós analisamos, mas o Brasil teve uma das piores quedas.”
O crescimento veio junto com o aumento no número de autores: hoje são 932 autores por milhão de habitantes, quase cinco vezes mais que em 2004. Entre as 32 instituições brasileiras com mais de mil publicações em 2024, apenas três tiveram variação negativa — uma mudança e tanto em relação a 2023, quando quase todas patinaram.
Mas nem tudo são flores. O Brasil tem taxa de crescimento anual composta (TCAC, estatística que resume como a produção cresce ao longo de vários anos) de apenas 3,4% entre 2014 e 2024, ocupando a 39ª posição entre os 54 países analisados. É um número baixo para um país que ainda está construindo seu sistema de ciência e tecnologia. Fica o alerta! (também na Agência Brasil, no Metrópoles e na Folha de S.Paulo).
🎉 Que ano da Bori!
E por falar em crescimento, que ano foi esse para a Bori! Em 2025, disseminamos 173 conteúdos inéditos de 119 instituições de pesquisa brasileiras, que geraram pelo menos 3.660 matérias na imprensa — uma média de 10 por dia, todos os dias. Capacitamos mais de 200 jornalistas em temas estratégicos como clima, energia e biodiversidade, e treinamos cerca de 150 cientistas para falar com a imprensa e tomadores de decisão. Lançamos a newsletter A Culpa é da Ciência (oi, você está aqui! Somos 6,5 mil assinantes!), publicamos 2 relatórios em parceria com a Overton e a Elsevier (você leu acima, né?) sobre impacto e produção científica, e ainda levamos ciência brasileira para a COP30 com 4 entrevistas exclusivas e uma pesquisa inédita sobre tipping point na Amazônia.
A missão continua. Vamos fazer a ciência brasileira circular e causar impacto. Em 2026, a Bori vai ampliar ainda mais esse alcance, expandindo o diálogo para além da imprensa — chegando a tomadores de decisão, organizações da sociedade civil e setores que transformam evidência em ação no mundo real. Sem perder o compromisso com o jornalismo e o interesse público, porque é disso que a democracia se alimenta: de informação qualificada baseada em evidências. E a ciência brasileira tem muito a dizer. 🌊
🧪 Ciência do Brasil

Tem bicho sobrando onde não devia, faltando onde precisamos. Enquanto o mexilhão-dourado se multiplica na Amazônia em ritmo acelerado, as abelhas — essenciais para a agricultura — estão perdendo a capacidade de voar. São dois problemas opostos com o mesmo efeito: prejuízo para quem produz, para quem pesca, para quem depende da natureza funcionando direito.
🐚Sobrando - O mexilhão-dourado chegou à Amazônia antes do previsto, e chegou com tudo. Primeiro registro no rio Tocantins foi em 2023; um ano depois, estudo da UFPA e do Cepnor/ICMBio encontrou 11.940 indivíduos/m² — um salto de 88 para quase 12 mil em apenas 12 meses. A espécie invasora, originária do sudeste asiático, já completou pelo menos um ciclo reprodutivo na região. O bicho altera a transparência da água, compete com espécies nativas, entope tubulações, prejudica piscicultores e pescadores. E eliminar a espécie em ambientes naturais é praticamente impossível. (também no Metrópoles)
🐝Faltando - Inseticidas usados na agricultura brasileira estão derrubando abelhas. Estudo da UFCG mostrou que a exposição aos inseticidas clorantraniliprole e ciantraniliprole reduz a sobrevivência e, principalmente, compromete a capacidade de voo das abelhas africanizadas. Sem voar direito, abelha não coleta néctar, não poliniza, não volta pra colmeia e não ajuda o agricultor. (também no Todo Dia)
🐾 Bichos & Cia.
🦇’É sódio que me faltava’
Na Amazônia Ocidental, morcegos frugívoros estão se reunindo para beber em um lugar inusitado: poças formadas pela água suja que sai do ralo da cozinha. O comportamento, descrito por pesquisadores do Inpa na Acta Amazonica, é por necessidade. A região oeste da Amazônia é historicamente carente de sódio, um mineral escasso na natureza mas essencial para os animais (apesar dos restos de comida, sal de cozinha e sabão). O problema é que essa proximidade com os dejetos domésticos gera um risco de transmissão de patógenos de humanos e animais domésticos para a fauna selvagem e vice-versa. (também na Folha de S.Paulo)

✨ E mais
🪥 Escove com calma – Escovar os dentes rápido demais reduz o efeito anticárie. Pesquisa da Unicamp criou o primeiro modelo que estima quanto fluoreto uma pasta libera (também na Galileu)
💊 De revolução a vilão – O Cytotec ocupou páginas de jornais brasileiros por quatro décadas, quase sempre de forma estigmatizada. Pesquisa da UFG analisou 203 matérias entre 1980 e 2019. (também na Rede Nacional de Combate à Desinformação)
🌊 El Niño pescador – O mesmo fenômeno climático que seca a Amazônia e reduz a pesca na foz do rio pode aumentar a captura de peixes no sul do Brasil. (também no Amanhã)
💬 Política no WhatsApp – 50% dos brasileiros evitam falar de política no grupo da família, mas participam de grupos de campanha eleitoral ativos após as eleições. Pesquisa do InternetLab e Rede Conhecimento Social. (também no podcast Café da Manhã, da Folha)
🔎 Vimos por aí
🌡️GovernaClima – Plataforma digital da UFRGS mapeia e visualiza a arquitetura institucional da governança climática brasileira em nível federal.
🏆 Transmissão vertical do HIV – OMS certificou o Brasil pela eliminação da transmissão de mãe para filho do HIV, tornando-o o maior país das Américas a alcançar esse marco.
🦟Fábrica de mosquitos – Luciano Moreira, da Fiocruz, abriu uma megafábrica que produz 80 milhões de ovos de Aedes aegypti infectados com Wolbachia por semana. A bactéria reduz transmissão de dengue e outras arboviroses. Moreira está na lista Nature’s 10 de 2025.
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Entraremos em recesso a partir do dia 19 de dezembro e voltaremos no dia 12 de janeiro, prontos para mais um ano de muito trabalho, boas pautas e ciência de qualidade! Que 2026 chegue sem invasões indesejadas e com a capacidade de voo intacta. Até lá!


