A Culpa é da Ciência #010 - Tipping point na Amazônia: ponto de não retorno ou ponto de interrogação?
Décima edição, e o debate está mais quente que nunca! A Culpa é da Ciência é a newsletter mensal da Bori que reúne histórias, descobertas e debates relevantes para você, que dá valor à ciência.
A Bori esteve em Belém, e levou elementos para ajudar a responder uma pergunta que se tornou uma das principais na seara científica da COP30: afinal, a Amazônia está ou não perto de um ponto de não retorno? No dia 13 de novembro, na Zona Azul da conferência, apresentamos um estudo inédito feito em parceria com a Fundação Conrado Wessel: uma análise de 823 artigos científicos sobre tipping points amazônicos usando inteligência artificial.O levantamento integra o Atlas Cultural de Soluções Científicas, iniciativa da Bori e da FCW. O painel “Hipóteses extraordinárias exigem evidências extraordinárias” reuniu David Lapola (Unicamp), que coordena essa discussão dentro do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, Marina Hirota (UFSC), Kaianaku Kamaiurá (Programa Kuntari Katu) e Taís González (Unicamp).
Os números mostram o tamanho da incerteza: dos 511 artigos que tratam especificamente do tipping point amazônico, 178 sugerem a existência de um ponto de não retorno, 247 rejeitam a hipótese e 86 destacam as incertezas e a falta de evidências conclusivas. Alguns estudos fixam 25% de desmatamento como gatilho; outros trabalham com faixas entre 18% e 28%. A conclusão? Precisamos fugir do discurso binário “acabou/não acabou” e comunicar melhor as zonas de risco. A ciência não tem todas as respostas — mas tem as perguntas certas. Houve repercussão dessa discussão na Agência Fapesp e na Folha de S.Paulo.

🌳🌊 Amazônia e oceanos no debate
Outros estudos também tratam de ecossistemas como florestas e oceanos daqueles divulgados pela Bori nas últimas semanas. Pesquisa da RedeFauna, publicada na Nature, analisou 447.438 registros de caça em 647 localidades entre 1965 e 2024 e revelou que o desmatamento amazônico reduz em até 75% o acesso à carne de caça para comunidades tradicionais (também no Brasil de Fato). Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (PA), ribeirinhos sem coleta de lixo queimam 88% dos plásticos e enterram 69% dos vidros (também no Portal Ig). E o Instituto Amazônia 4.0 aponta que o Brasil pode zerar emissões em 2040 — uma década antes da meta oficial. Ufa, finalmente uma boa notícia! (também na Superinteressante e no Globo Rural)
Os oceanos também tiveram protagonismo em Belém e na nossa vitrine de estudos. A Liga das Mulheres pelo Oceano lançou na COP30 um mapeamento com 52 iniciativas de conservação marinha lideradas por mulheres: no Norte e Nordeste, foco em pesca artesanal e manguezais; no Sudeste, educação ambiental urbana; no Sul, gestão de baías. O principal desafio? Acesso a financiamento (também na Meio e Mensagem). Já a UFSM publicou um estudo sobre cinco séculos de exploração (1500-1911) de baleias, garoupas e peixes-boi — que ainda afetam a megafauna marinha brasileira. Camurupim e beijupirá são hoje 64% menores que os registros históricos (também na Galileu)
📊🌎 Os 107 brasileiros que movem o mundo
E se tem um trabalho que fez barulho antes mesmo da COP, foi a “lista dos 107”. Em parceria com a Overton, a maior plataforma internacional dedicada a mapear o impacto da ciência em políticas públicas, a Bori revelou quem são os 107 pesquisadores brasileiros que mais influenciam decisões no mundo. São cientistas cujas pesquisas embasaram mais de 33,5 mil documentos de políticas públicas desde 2019 — de relatórios da OMS a estratégias nacionais de combate à fome. O top 5 é formado por Cesar Victora (Ufpel), Carlos Monteiro (USP), Aluísio Barros (Ufpel), Paulo Saldiva (USP) e Pedro Hallal (Ufpel), que somam mais de 5.500 citações em documentos que viram lei, programa ou estratégia governamental.
Como disse Cesar Victora, que lidera a lista: “embasar e direcionar políticas públicas é o mais alto reconhecimento que um cientista pode receber da sociedade”. E a Bori está aqui justamente para mostrar que a ciência brasileira não fica só no papel — ela vira ação. Saiu também no UOL, no Globo, na Exame, e em sites governamentais e institucionais (INMA, USP, Cemaden, UFC e Unifesp).
🐾 Bichos & Cia.
🐟🐠 Relíquia laranja - Com uma faixa oblíqua escura que percorre o corpo até a cauda e nadadeiras em tons de laranja intenso, o Inpaichthys luizae é mais que um peixe bonito — é uma cápsula do tempo biológica. Encontrado nos afluentes do rio Juruena, no Mato Grosso, esse lambari representa uma linhagem isolada há milhões de anos, separada de parentes da região andina. A descoberta, descrita na revista Neotropical Ichthyology, amplia o conhecimento sobre o gênero e reforça a importância das cabeceiras do Tapajós como repositório de espécies relíquias (também no Metrópoles e no GC Notícias). 🧡🖤
🪵 Menor cascudo-graveto do mundo – Pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ analisaram 5.000 espécimes de para confirmar: a Farlowella kirane é adulta (e minúscula, com apenas 10 cm). “Kirane” significa “pequeno” em Paresí. (também em O Eco)
🧪 Ciência no Brasil
🍔 Ultraprocessados ganham terreno – Proporção de calorias vindas de ultraprocessados saltou de 10% para 23% em quatro décadas. Coletânea no Lancet liderada por brasileiros da Unicamp e USP liga consumo a maior risco de obesidade, diabetes e morte precoce. (também no Público e na Agência Brasil)
🪨 Ferramentas inabaláveis por 300 mil anos – Hominíneos do Quênia mantiveram a mesma tecnologia de corte por 300 mil anos, mesmo com clima caótico. Lâminas de 2,75 milhões de anos mostram transmissão de conhecimento entre gerações. (também no Correio Braziliense)
⚖️ MPF sem autocrítica pós-Lava Jato – Pesquisa da UnB ouviu 50 procuradores: maioria ainda defende “erradicar a corrupção” como papel central, função não prevista na Constituição. Reconhecem contexto político favorável, mas rejeitam críticas ao modus operandi. (também na Agência Cenarium)
🌊 Santos exporta microplásticos – Estuário de Santos retém apenas 9% dos microplásticos. 68% ficam suspensos na água, 23% vão para o oceano. Durante ressacas, invadem praias e canais. Modelos da USP funcionam como mapa de risco para políticas de limpeza.
🔎 Vimos por aí
🌍 COP30: multilateralismo vivo, mas lento – Giovana Girardi analisa na Agência Pública: Belém avançou, mas não criou “mapa do caminho” para transição dos fósseis.
👶🏿 5 cientistas premiadas pela primeira infância – 3ª edição do Prêmio NCPI reconheceu 5 vencedoras de diversas instituições do Brasil: UESC (BA), UFPA, UEAP, UFMA e UnB. A Bori apoiou a formação em comunicação científica dos finalistas em (Veja mais no blog)
📸 Geleiras e Desertos em foco – Estão abertas até 15/02/2026 as inscrições para o Prêmio Through Southern Lenses, da FCW e da TWAS. US$ 20 mil para fotógrafos do Sul Global que documentem mudanças climáticas em geleiras e desertos.
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